sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Contribuição para a estatística, Wislawa Szymborska

Em cada cem pessoas:

sabendo de tudo mais do que os outros:

- cinquenta e duas,
inseguras de cada passo:

- quase todas as outras,
prontas a ajudar desde que isso não lhes tome muito tempo:

- quarenta e nove,
o que já não é mau, sempre boas porque incapazes de ser de outro modo:

- quatro; enfim, talvez cinco,

prontas a admirar sem inveja:

- dezoito,

induzidas em erro

por uma juventude afinal tão efémera:

- mais ou menos sessenta,

com quem não se brinca:

- quarenta e quatro,

vivendo sempre angustiadas

em relação a alguém ou a qualquer coisa

- setenta e sete,

dotadas para serem felizes:

- no máximo vinte e tal,

inofensivas quando sozinhas

mas selvagens quando em multidão:

- isso, o melhor é não tentar saber nem mesmo aproximadamente,

prudentes depois do mal estar feito:

- não mais do que antes,

não pedindo nada da vida excepto coisas:

- trinta, mas preferia estar enganada,

encurvadas, sofridas,

sem uma lanterna que lhes ilumine as trevas

- mais tarde ou mais cedo, oitenta e três,

justas

- pelo menos trinta e cinco, o que já não é nada mau,

mas se a isso juntarmos o esforço de compreender

- três,

dignas de compaixão:

- noventa e nove,

mortais:

- cem por cento,

número que, de momento, não é possível alterar.

As três palavras mais estranhas

"Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser".  
Wislawa Symborska